A ERA DA TIRANIA

A Legião dos Abandonados, exército do Arcelich, se espalharam rapidamente por todo o Plano Concordeal. Quanto mais perto de onde ocorreu o grande confronto, mais rápido o abissal invadiria aquele lugar. As guerras pela resistência logo se tornaram massacres, e em pouco tempo, todas as fronteiras mais nobres do Reino Unificado eram agora a morada dos amaldiçoados, os portões pelos quais demônios e mortos-vivos se espalhariam por todo o mundo.

Embora tudo isso parecesse ser problema suficiente para as pessoas daquela época, o Arcelich não estava satisfeito, ele preparava um ritual gigantesco, algo que exigia tanto conhecimento, tanto poder, que nem mesmo os próprios Deuses sabiam que era possível. Um feito mágico, fantástico e aterrorizante... Um feito que realmente mudaria o destino não só do Plano Concordeal, mas de todos os Planos... Tamanhos foram os ensinamentos entregues pelo Sem Rosto que o Arcelich foi capaz de deturpar leis estabelecidas pelos Deuses desde a Primeira Era, invocando para si os poderes do Vazio, corrompendo-se em uma forma inacabada de divindade, algo entre o que se conhece por mortos-vivos e além da imortalidade. Alvas se tornou o primeiro Aspecto.

Tais poderes proporcionaram a Alvas a capacidade de absorver e consumir a magia, algo que deu o início de uma jornada que traria o fim imediato de todas as sociedades e culturas que usavam qualquer espécie de talento mágico, seja ele arcano, religioso ou mesmo natural. Agora, o Arcelich desejava absorver ou destruir tudo o que algum dia poderia ameaçá-lo, mesmo que mínima e improvavelmente.

De cidade em cidade, de casa em casa, de canto em canto que abrigava algum tipo de magia, o Senhor da Morte chegava e fazia apenas uma oferta, e caso não fosse aceita, conjuraria o máximo de seu poder bélico, desencadeando o fogo das feras e as tempestades do abismo em cada um dos lugares que não se subjugasse a ele. Se isso não bastasse, logo após o ataque implacável, A Legião dos Abandonados, guiados por um fanatismo agora implacável, chegariam para devastar e amaldiçoar a terra, saqueando tudo o que restava, eliminando aqueles que ainda nutriam uma falsa esperança, decidindo ficar e lutar por seus entes queridos. Não havia exceção, onde havia um lapso de mágica, Alvas estaria lá para pulverizar e deixar sua marca, deixando o aviso de que ele estaria lá até que todos desistissem desse caminho.

Os poderes de Alvas simplesmente não podiam ser vencidos, e a cada vez que não era derrotado, tornava-se objetivamente ainda mais forte. Ele não se dividiria em fragmentos imortais planejando uma possível ressurreição, pois isso o enfraqueceria e permitiria que outros aspirantes a imortais aprendessem com o pedaço encontrado. Alvas concentraria tudo em um único receptáculo, ele próprio, tornando-se superior a todos os outros mortais que um dia ocuparam o trono da imortalidade, atingindo o medo onde o medo podia atingir e criando o medo onde o medo ainda não havia sido encontrado.

Com o passar do tempo, além de destruir os que tentavam enfrentá-lo, os contratos de perdão e ensinamentos oferecidos a outros conjuradores seriam cobrados, forçando-os a desistir da vida em troca da lealdade eterna. Esses seriam seus aprendizes, os Semi-Imortais, Lichs e Demi-Lichs, Pontífices do Senhor da Morte, criaturas que trocavam seu corpo e alma pela imortalidade, servindo um propósito eterno e absoluto ao Arcelich. Estes eram os novos Donos do Mundo.

As civilizações sofreram, a esperança de que os conjuradores mágicos remanescentes pudessem vencer este horror estavam desaparecendo, e cada vez mais desesperadas, as pessoas foram forçadas a tomar sua própria iniciativa contra essa batalha que não poderia ser superada. Os conjuradores e estudantes de magia tornaram-se cada vez mais escassos, e percebeu-se que sociedades que não tinham mais acesso a magia eram capazes de sobreviver e prosperar lentamente, lidando apenas com os seus próprios problemas, enquanto sociedades que se apoiavam teimosamente na magia para tentar sobreviver a guerra eram frequentemente visitados pelos lacaios de Alvas...

Não se sabe ao certo quando a busca por praticantes de magia foi iniciada por pessoas comuns, não se sabe se era um movimento que tinha um líder ou apenas uma grande comoção conjunta, isso é realmente incerto. O que se sabe é que, em pouco tempo, os entusiastas da magia já eram considerados tão perigosos quanto o próprio Senhor da Morte. Ao longo dos anos, todos os reinos, cidades, vilas e aldeias começaram a caçá-los como se fossem os próprios demônios, como se fossem bandeiras que drenam a paz e trazem a guerra. Da criança nascida com dons mágicos, graças a uma possível genealogia arcana anciã, mesmo as afetadas pelo celestial, pelo sangue de anjos, todos eram tratados como se fossem os praticantes dos massacres... Não importava se parecia certo ou errado, a sociedade como conhecida naquela época encontrou a paz na caça às bruxas. Enquanto as pessoas na área estivessem certas de que aqueles mortais relacionados à magia seriam executados, enforcados ou queimados, também era certo que A Legião dos Abandonados não bateriam sua porta...

Variadas são as lendas urbanas do porquê o Arcelich não mais apareceu em meio a era que praticamente criou. Alguns supõe que a supressão da magia no mundo o fazia perder seus poderes, outros acreditavam que sua conquista o havia satisfeito. Porém, o que mais se aceita dentre os estudiosos é que, durante o início dos avanços de Alvas, Idaer havia enviado um de seus discípulos para o campo de batalha da Guerra da Ruína Heroica e o feito resgatar a alma aprisionada de Riviera, única que havia restado, pois este um dia teve em suas mãos um artefato de Curaviz que preservou a sua alma após o evento cataclísmico. A Sabedoria ascendeu um mero aventureiro a um Deus. Riviera, como sua primeira criação, abriu aos humaníres parte dos poderes das divindades, instituindo o que hoje é conhecido como uma Alma Aventurosa. Por conta desta ação, grandes heróis haviam surgido das cinzas para frear Alvas, mas incapazes de o parar, sacrificaram-se para adormecer este Aspecto vingativo. Estes aventureiros, segundo supõe os textos, foram: Hilly Berrington, Broznor, Khers, Riborni Vangola, Tuareninya Veyron, Cyril Gireon, Stal Boltin, Robleof D. e Deanna Grove. Suspeita-se que, seja lá pelo que estes aventureiros fizeram, Alvas não mais apareceu perante nenhum registro durante o restante desta era.

Mesmo com Alvas não mais liderando a Legião dos Abandonados, este exército não parou seus avanços. Porém, quando foi entendido que o Arcelich não mais faria parte dos ataques, duas grandes famílias, Fasis e Rehor, começaram a construção de uma grande muralha, uma parede que começaria nas Montanhas Acorrentadas, e terminaria apenas nas praias, fechando a passagem no continente de Artorian e protegendo as civilizações vivas dos demônios e mortos-vivos que viessem do Deserto Eterno.

A religião que enfraqueceu durante os avanços de Alvas lentamente retornou aos corações das pessoas e, por alguma razão, eles passaram a acreditar que a proteção dos deuses era, acima de tudo, aquilo que permitiu a destruição da magia, e a invisibilidade dos não feiticeiros aos olhos do Herdeiro do Vazio. Dessa maneira, as sociedades prosperaram e, ao longo dos anos, as criaturas abissais foram expulsas das terras dos vivos, um dia de cada vez. As civilizações encontraram um porto seguro no continente de Artorian. As famílias Fasis e Rehor que foram leais ao Imperador Mestiço desde a sua coroação na Era da Unificação, decidiram que era seu dever fornecer um lugar seguro para aqueles que juraram proteger, e assim o fizeram. Esta construção posteriormente seria conhecida como Grande Muralha da Liberdade o grande marco do que seria o reerguer das sociedades humaníres. Assim, os vivos passariam a poder lidar apenas com seus próprios problemas, mesclando lentamente a existência de um mal supremo com a vida comum, nunca realmente planejando resolver esse problema com suas próprias mãos, mas apenas vivendo de acordo suas próprias teorias e profecias... 

A Era da Tirania, como esta é conhecida, levou o mundo ao seu momento mais cruel, onde as sociedades precisaram ressurgir em um berço cheio de adversidades, ainda conseguindo espaço para novos problemas. Apesar da tirania de Alvas ser um dos, senão o fator de maior importância nesta era, seu adormecer não trouxe o fim de regimes tirânicos para quem viveu nesta época. Com a reorganização das sociedades, uma poderosa Sultana conhecida como A Princesa do Deserto Eterno foi capaz de inserir-se na política de todas as nações que surgiram daquela época e sistematizar a execução de detentores de magia.

Como toda a sociedade já caçava aqueles relacionados à magia, o povo comum suplicava a seus governadores que deixassem forças desta famosa governante proteger todo pedaço de terra, e como a feitiçaria nunca realmente atingia patamar de problema resolvido, sua influência cresceu mais rapidamente do que uma mensagem por pássaro. Em pouco tempo, ela teve instituições fiéis em todas as cidades, províncias e reinos no continente de Artorian. 

A Princesa do Deserto Eterno foi capaz de varrer quase toda a magia, feitiçaria e seus detentores das terras dos vivos, criando e treinando um grupo de elite chamado de Último Manto, preparado especificamente para caçar e destruir humaníres detentores de magia. Usando todo o seu poder e influência, A Princesa do Deserto Eterno foi quem solidificou o rumor de que Alvas era atraído pela magia e livrando o mundo de magia também se livraria o mundo de Alvas. Segundo os arquivos da antiguidade, muitos dizem que boa parte do povo apoiava esta política, mas tamanhas foram as atrocidades e o desespero dos humaníres habitantes desta época que uma enorme quantidade de facções se manifestaram dando início a uma nova geração de heróis que trariam o fim desta Era por meio da força.

Os massacres e injustiças em busca da eliminação completa das magias no mundo vagarosamente chamaram a atenção de grupos rebeldes, facções, organizações e aventureiros que tentariam de tudo para parar a tirana que deturpou a liberdade no mundo. Anos e anos de união, penitência e sacrifícios foram condensados em um grande e coordenado ataque ao Castelo da Capital, lar da Princesa do Deserto Eterno, que veio do subterrâneo da grande cidade de Meridian enquanto uma armada de rebeldes se sacrificaria para chamar atenção das tropas nos portões da cidade. Os aventureiros daquela época foram capazes de invadir e sobrepujar a guarda que protegia o interior do castelo, finalmente encontrando e vencendo aquela que era considerada por eles a inimiga do mundo. Os nomes destes que venceram a tirana estão entalhados nas paredes do Castelo da Capital, são eles: Angelique Brodeaur, Anki, Artemísia Glaukopsi, Aust, Brod, Felrus Tesla, Pandora Tesla, Ganrumi Bethoi, Larsson, Lynrah Barei, Naz Ootah, Nazim Mil Mortos, Nestha Archeron, Rufus Vangola, Sho'Nuff e Vivar Gravel. 

Sem a figura desta grande líder, o povo comum e o Último Manto eventualmente perderia sua força e o movimento estaria acabado. Porem, esta líder não estava disposta a apostar seu propósito em uma queda-de-braço com qualquer outro ser daquela época. Conhecida no submundo da magia nesta era como A Senhora dos Milagres, esta tirana sempre esteve infiltrada nos Fascinadores, a última sociedade mágica da época, consumindo conhecimentos proíbidos nos textos mais anciões que se supõe existir naquele tempo. Foi usando a própria vida e artefatos cuidadosamente coletados ao longo de sua liderança como Fascinadora e Sultana de Cifala, que a Senhora dos Milagres acordou o Titã-Dragão Tuz, na esperança de que a destruição causada pelo seu voo fosse o suficiente para destruir o restante da magia que ainda jazia no mundo.

O voo do Mais Velho Vermelho e Mentor do Fogo seria mais uma calamidade que arrasaria todas as sociedades existentes, acordando todos os vulcões, enchendo as terras e oceanos com terremotos, quebrando os continentes e espalhando fogo e cinzas por todas as terras. Este evento marcaria o fim da Era da Tirania e o início da Era Cinza.